quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Exagero.

Continuei a alisar os cabelos, com muito cuidado, e dividi-os em duas porções iguais, para compor as duas tranças. Não as fiz logo, nem assim depressa, como podem supor os cabeleireiros de ofício, mas devagar, devagarinho, saboreando pelo tato aqueles fios grossos, que eram parte dela. O trabalho era atrapalhado, às vezes por desazo, outras de propósito para desfazer o feito e refazê-lo. Os dedos roçavam na nuca da pequena ou nas espáduas vestidas de chita, e a sensação era um deleite. Mas, enfim, os cabelos iam acabando, por mais que eu os quisesse intermináveis. Não pedi ao céu que eles fossem tão longos como os da Aurora, porque não conhecia ainda esta divindade que os velhos poetas me apresentaram depois; mas, desejei penteá-los por todos os séculos dos séculos, tecer duas tranças que pudessem envolver o infinito por um número inominável de vezes. Se isto vos parecer enfático, desgraçado leitor, é que nunca penteastes uma pequena, nunca pusestes as mãos adolescentes na jovem cabeça de uma ninfa.

Ela vivia alegre, quando eu chorava todas as noites. Fez meu coração bater tão violento que ainda agora posso ouvi-lo..
Algo exagero nisso, mas não esqueças que era emoção do primeiro amor.


Prolixo Amor ®


Depois de longos momentos de exaustão, nos mais íntimos pensamentos de incompreesibilidade em relação ao ser humano, vêm a tristeza. A sua alma passa a não mais entender os gestos de outrem, que ficam como nódoas em seu coração, empatando assim, todo e qualquer gesto a partir daí, de carinho, afeto ou apego. Fica então, guardado em meu peito, a mais ingrata sensação de impotência, de lamentação ao passado, me impedindo de sentir, existir...
Até que venha a lucidez, fico aqui, quase sem movimentos, apático, triste. Esperando o próximo amanhecer.